Por que precisamos de um dia e de uma semana dedicados à saúde mental materna?

Dia Internacional da Saúde Mental Materna:
Primeira quarta-feira de Maio

Semana Internacional de Conscientização da Saúde Mental Materna:
Primeira semana de maio

Por que precisamos de um dia e de uma semana dedicados à saúde mental materna?

 

Ajudar mães, ajudar bebês!

Em muitos países, cerca de 1 a 5 mães recentes vivenciam algum tipo de alteração de humor durante o período perinatal (da gravidez ao pós-parto), bem como distúrbios de ansiedade. A incidência de depressão pós-parto em países de baixa renda, segundo a Organização Mundial de Saúde, acontece em torno de 19,8%. No Brasil, uma pesquisa realizada pela Fiocruz, com mais de 23000 mulheres, detectou depressão materna em 26% das mães entre 6 e 18 meses após o parto. Ou seja, 1 a cada 4 mulheres no Brasil, em média, sofrerá com depressão após o nascimento de seu bebê. São índices preocupantes e que geram grande impacto na vida de mães, bebês, pais e famílias inteiras.  Estas alterações frequentemente passam despercebidas, sem diagnóstico ou tratamento, e muitas vezes com consequências trágicas e a longo prazo tanto para mães, quanto para bebês - geram dificuldades no estabelecimento do vínculo mãe-bebê, no aleitamento materno, trazem consequências para o desenvolvimento da criança, em vários aspectos, interferem negativamente na adaptação da mulher ao novo contexto de vida, bem como na relação consigo mesma, com a parceria, a família, o entorno social e o retorno ao trabalho, e em situações mais graves, dificuldades que podem envolver situações de risco à vida da mãe e da criança.

Nenhuma mãe está imune ao sofrimento psíquico

Apesar dos indicadores apontarem para fatores de risco e contextos específicos associados a uma maior incidência de distúrbios e dificuldades mentais/emocionais, o fato é que a maternidade é uma vivência que envolve grandes transformações na vida de uma mulher e o período perinatal, em particular, é uma fase intensamente desafiadora e considerada como período de crise do ponto de vista psicológico (muitas vezes crise em vários outros níveis da vida). Por envolver grandes desafios agregados em vários níveis, em simultâneo, e um período de crise, de desorganização e ajuste, mães de todos os contextos culturais e socio-econômicos, podem, portanto, vir a sentir dificuldades no âmbito de sua saúde mental e emocional. O suporte adequado e uma a rede de apoio preparada para acolher e amparar emocionalmente, psicologicamente, às mães durante suas vivências da maternidade, faz-se, então, essencial.

Estigmas acerca da saúde mental no período perinatal e em relação à saúde mental das mães

Ainda existe um forte stigma quando falamos de saúde mental: o medo da loucura, a visão do adoecimento psíquico enquanto algo definitivo e muito assustador, potencialmente perigoso. Enquanto não visualizarmos a saúde mental e emocional enquanto parte integrante de nossa saúde, enquanto algo essencial à nossa vida e tão impactante em nossa realidade quanto a saúde do corpo, não avançaremos enquanto sociedade. A saúde precisa ser vista enquanto integral: envolve todas as partes de nossa humanidade. Muitas vezes as mães têm muito medo de admitirem que precisam de apoio ao nível psicológico, mental, emocional, pois têm medo de serem julgadas, consideradas incapazes de cuidar de seus filhos, de serem julgadas más-mães, de serem afastadas de seus bebês. Enquanto não houver mudanças na comunicação acerca da importância e benefícios de cuidar da saúde mental de forma geral, para além dos distúrbios; mudança nas políticas de atenção e assistência neste âmbito, continuaremos a ter um grande número de mães, bebês e famílias sendo afetados por muitas dificuldades que poderiam ser evitadas, muitas vezes até mesmo com medidas simples, de baixo custo e acessibilidade - com intervenções pautadas em psicoeducação, apoio terapêutico, informação de qualidade sobre o período perinatal, acesso a rede de apoio qualificada, entre outras. É preciso deixar o medo de lado e encorajar profissionais, familiares e amigos a perguntarem às mães como elas se sentem, quais as necessidades delas no nível emocional e mental, sermos fontes de apoio e encorajá-las também a buscar este apoio onde ele estiver disponível.

O dia e a semana da saúde mental materna são oportunidades de dar o primeiro passo nesta direção!

Apoie uma mãe hoje. Se você é mãe, busque o apoio de que necessita.

Cuidar de um bebê é uma tarefa exaustiva e muito impactante.

É preciso cuidar de si e também ser cuidada, para conseguir encontrar formas de cuidar com uma nova qualidade - com qualidade de vida e saúde mental reestabelecida, para mãe e bebê.

Josie Zecchinelli

Psicóloga e fundadora do Instituto Maternidade Consciente

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