A saúde mental e emocional no ciclo da gravidez ao puerpério

Um período intenso de mudanças que fazem com que nossa capacidade de adaptação e nossa resiliência diante do que já não conseguimos prever ou controlar como antes sejam constantemente colocadas em teste e reajustes. Quando finalmente começamos a nos ajustar, acostumar e desenvolver forças e estratégias de enfrentamento, tudo muda de novo, tudo se desorganiza: pode ser uma nova sensação física, um novo exame de saúde que traz consigo medos e dúvidas ou alterações que mudam o curso da gravidez, uma mudança de residência, uma crise financeira, uma experiência de parto diferente do que imaginamos e esperávamos, um filho diferente do que idealizamos, um cenário de puerpério cheio de crises em paralelo, uma situação de luto…tanta coisa por este caminho!

Maternidade, aqui focada em sua fase inicial, traz mudanças pra vida toda. São muitas fases, muitas possíveis crises. Mães têm sofrido sozinhas, caladas, profissionais de saúde despreparados para o apoio adequado, famílias desinformadas que também não conseguem perceber o que se passa ou prestar apoio efetivo. Todos podemos contribuir, começando por nos informarmos, sensibilizarmos e reconhecermos a fragilidade e vulnerabilidade de ser quem sustenta e suporta o início da vida de outros seres, e que tudo isso não é o mesmo que doença ou fraqueza, mas um período muito diferenciado e sensível, sim, e que se não cuidado, desequilibra e adoece também - que implica em maior necessidade de apoio e proteção, e assumir o compromisso de juntos oferecer melhores começos e recomeços às famílias à nossa volta - porque maternidade não é assunto de apenas mãe, filhos e família, é assunto de humanidade, é criação de base pra gerações que alimentam, constroem e movem o mundo, é assunto de sociedade. Cuidemos das mães, cuidemos de suas emoções e sua saúde mental, e cuidaremos de todos de quem elas diariamente cuidam, cuidaremos do presente e do futuro. Por elas, em primeiro lugar, e por todos nós, por consequência direta ou indireta. 

Saúde mental é coisa séria: quando falamos disso, frequentemente pensamos em adoecimento mental, depressão, de distúrbios, transtornos, ansiedade, pânico, estresse. No entanto, é preciso ir além e compreender que saúde mental é um conceito abrangente, que, mais do que a mera ausência de adoecimento psíquico ou cognitivo, fala de bem-estar e ajuste psicológico, emocional, cognitivo e que se relaciona aos âmbitos sócio-econômico-cultural, biológico e até mesmo espiritual de nossa realidade humana. Pensar em saúde mental no período perinatal é pensar em tudo isso dentro de um recorte particular de nossa vida, um período desafiador, de crise em vários níveis, ajuste em vários níveis em simultâneo, a maternescência, e que , portanto, requer ainda mais atenção e cuidado para com a integralidade de nossa saúde.

A maternidade,no ciclo da gravidez ao pós-parto, traz um contexto de privação de sono intensificado, débito de sono por um período contínuo e relativamente longo, traz ajustes e modificações funcionais e hormonais que afetam o sistema nervoso de diversas formas, gerando impactos a mais, em parte temporariamente, em parte permanentemente, durante um período que se estende por pelo menos 2 anos após o nascimento do bebê, em média, segundo estudos recentes.  Aqui eu usei muitos recursos psicológicos comigo mesma, que estavam na minha “bagagem de vida”, pra conseguir passar pelas “tempestades” emocionais que vivi nesse período todo, até poder retomar a terapia, que foi um alento. Meus anos de prática de meditação serviram não para me deixar zen, isso não foi possível, mas para conseguir passar pelas ondas com outra qualidade, sem me perder por completo, com capacidade de durante e depois do furacão eu conseguir me dar conta do que tinha passado, de me cuidar, de conversar, de buscar reparação. Meus anos de práticas de alteração de consciência me ajudaram a sustentar muito as noites de privação de sono, a não perder o controle por completo diante de momentos de muita desestabilização emocional. Eu gostaria de ter vivido de forma mais cuidada do que foi possível, por inúmeros motivos, todo esse período. Mas hoje consigo enxergar que dentro dele, eu naveguei muito além, eu não me afoguei, eu consegui crescer e viver escolhas minhas, importantes, mesmo que com desafios dolorosos e sofridos eu estava lá, em mim, sentindo e me reconhecendo, me permitindo e me acolhendo, de um jeito muito diferente do que sempre foi, mas de um jeito que hoje vejo que era saudável - eu pude viver, e ainda estou vivendo, essa maternescência - a transição de identidade para a maternidade, com redução de danos, com busca de melhorias profundas, com muito respeito e cuidado com minha saúde mental. 

Como vivenciar todas estas alterações enquanto adaptações que são vividas com percepção de bem-estar, de integração, de satisfação, mesmo em meio a adversidades e dificuldades? O que você tem feito para efetivamente contribuir para sua saúde mental nestes momentos do ciclo de vida materna, ou para contribuir para as mães próximas a você? Procure apoio profissional, se possível e disponivel em sua localidade ou pela internet (hoje ja temos profissionais de psicologia autorizados a realizar acompanhamento online),
procure grupos de apoio, grupos de mães que estejam vivendo momento parecido ao seu, com estilo de maternagem que seja semelhante ao seu, procure outro profissionais de saúde para acompanhamento e encaminhamento, terapias complementares, que podem estar disponiveis até mesmo no SUS em algumas cidades. Leia livros inspiradores e que realmente contribuam para seu bem-estar e sua saúde mental e emocional, encontre formas de autocuidado e de se nutrir emocionalmente durante todo este período mais desafiador. Cuide bem de si e permita-se também ser cuidada, busque por cuidados!

texto de Josie Zecchinelli
imagem: google
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saúde mental materna4 de julho de 2019

Josie Zecchinelli

Psicóloga e fundadora do Instituto Maternidade Consciente

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