A importância de cuidarmos da saúde mental e emocional das mães

Estudos recentes mostram uma série de impactos que o excesso de intervenções durante o parto geram para a saúde mental das mães, colocando-as em maior risco para desenvolvimento de distúrbios. Há evidências de que a ocitocina sintética e a anestesia peridural aumentam o risco de que as mães sofram de ansiedade e depressão no puerpério. No caso de mulheres com histórico de depressão ou ansiedade, o risco de distúrbios emocionais no pós-parto aumentou em 36%, enquanto que para mulheres sem este histórico, o risco aumentado foi de 32%. Estes dados incluem tanto mulheres que tiveram parto vaginal, quanto as que tiveram uma cesárea. Apesar da ocitocina endógena, aquela produzida naturalmente por nosso corpo, ter impacto altamente benéfico para o bem-estar mental da mãe, no caso da ocitocina artificial, os efeitos não são os mesmos, pois o hormônio sintético se comporta de maneira diferente em nosso corpo. A ocitocina natural em nosso corpo se libera na circulação e diretamente em nosso cérebro. A ocitocina sintética, administrada na circulação sanguínea por gotejamento, não passa pela barreira hematoencefálica e por isso não tem efeito obre o sistema nervoso central. Por esta diferença, a ocitocina artificial não tem impacto benéfico para a saúde mental da mãe, como é o caso da natural. Sabemos hoje que a ocitocina é um hormônio super importante para estabelecimento de vinculação, para bem-estar e relaxamento, hormônio que é atuante não apenas no parto, as também no aleitamento materno. O uso de hormônios artificiais e a diferente forma de o corpo absorve-los, gera impacto também na produção hormonal do próprio corpo, reduzindo, neste caso, a produção de ocitocina endógena e consequentemente, seu impacto benefício. Portanto, a utilização de ocitocina sintética pode também afetar o aleitamento materno, que também tem sua importante função no âmbito da proteção e manutenção da saúde mental da mãe. Sabemos, ainda, que a utilização de ocitocina artificial acaba por gerar, frequentemente, uma consequente cascata de intervenções, cujo impacto se soma para afetar negativamente o bem-estar psíquico, psicológico da mãe. Falar de preparação para o parto, de parto humanizado e respeitoso, de parto com o mínimo de intervenções e com protagonismo da mulher, com respeito a todas as dimensões desta experiência para mãe e bebê, é também falar da saúde mental, de prevenção psicológica e pensar no impacto de cada circunstância neste âmbito de sua saúde. Afinal, após o nascimento, esta mulher precisará continuar a lidar com imensos desafios e sua resiliência será continuamente testada - sua saúde mental precisa ser protegida e cuidada, em prol de seu bem-estar e do bem-estar de seu bebê, e de sua família.

Josie Zecchinelli

Psicóloga e fundadora do Instituto Maternidade Consciente

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